Vi essa matéria da Dra. Laila Massad Ribas no Portal Medicina Felina, e compartilho com os leitores do Blogateira, afinal esse alerta é muito importante!
Apesar dos esforços ainda é muito comum a "auto" medicação para os gatos, ou seja, o proprietário acaba por medicar seu gato sem a prescrição de um veterinário. Sabemos que ninguém faz isso de má fé. Muitas vezes não há condições financeiras ou geográficas de levar o gato ao veterinário e, na tentativa de resolver o problema, o dono do gato pode cometer um erro grave.
Mas porque os gatos são tão sensíveis a certos medicamentos?
Os gatos possuem um metabolismo muito peculiar. Seu fígado é diferente do homem e dos cães e por isso alguns fármacos (medicamentos) demoram muito mais tempo para serem metabolizados pelo fígado. Isso significa que ele fica circulando pelo corpinho do gato por mais tempo antes de ser totalmente eliminado.
Esse tempo elevado na circulação pode acarretar danos no próprio fígado e em outros órgãos ou sistema.
Outra peculiaridade nos gatos é quanto às suas hemácias (glóbulos vermelhos) que são mais suscetíveis à oxidação da hemoglobina quando comparada com hemácias do homem e do cão. A hemoglobina é uma proteína da hemácia que contém ferro e ajuda no transporte de oxigênio aos tecidos.
A oxidação da hemoglobina é um processo natural em até certo ponto, mas em excesso pode levar à deficiência no transporte de oxigênio para os tecidos, causando o que chamamos de hipóxia e morte das hemácias (hemólise). Alguns medicamentos causam essa oxidação em excesso e pode levar o gato a óbito rapidamente por hipóxia e hemólise. Sua língua e mucosas ficam arroxeadas e a respiração ofegante.
Essas são as principais peculiaridades que podem levar um gato a um quadro de intoxicação medicamentosa. Vamos listar então alguns medicamentos de uso humano ou canino que podem ser tóxicos para os gatos dependendo da dose e alguns que devem ser evitados em qualquer dose.
1. PARACETAMOL (Acetominofeno):
Nomes comerciais mais comuns: Tylenol, Naldecon, Sonridor, Cimegripe e Vick Pyrena.
Para que serve? Analgésico e antitérmico de uso humano.
O que causa nos gatos? Oxidação de hemoglobina, hemorragia por hemólise e insuficiência hepática.
Quais os sintomas da intoxicação? Vômitos, língua e mucosas arroxeadas ou acastanhadas, dificuldade respiratória, salivação em excesso, urina acastanhada, edema em face e membros, choque e morte.
Existe dose segura? Não, qualquer dose é capaz de prejudicar o gato e até levar a óbito.
2. IBUPROFENO:
Nomes comerciais mais comuns: Alivium, Advil e Buscofen.
Para que serve? Anti-inflamatório, antitérmico e analgésico de uso humano.
O que causa nos gatos? Hemorragia gastro-intestinal, insuficiência renal e hepática e alterações no sistema nervoso central.
Quais os sintomas da intoxicação? Anorexia, vômitos, diarreia, sangue nas fezes, poliúria (muita urina), polidipsia (bebe muita água), ataxia, convulsão, coma e morte.
Existe dose segura? Não existem estudos que comprovem uma dose mínima segura para gatos.
3. ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS):
Nomes comerciais mais comuns: AAS, Aspirina e, Coristina D.
Para que serve? Anti-inflamatório, antitérmico e analgésico de uso humano.
O que causa nos gatos? Hemorragia, insuficiência hepática e acidose metabólica (diminuição do pH do sangue).
Quais os sintomas da intoxicação? Febre, respiração acelerada, vômitos, diarreia, sangue nas fezes, convulsões, coma e morte.
Existe dose segura? Sim, gatos podem tomar uma dose entre 10 e 20 mg/kg, mas somente a cada 48 horas.
4. FENAZOPIRIDINA:
Nome comercial mais comum: Pyridium
Para que serve? Usado por humanos como analgésico em infecções do trato urinário (cistites).
O que causa nos gatos? Oxidação de hemoglobina, hemorragia por hemólise e insuficiência hepática.
Quais os sintomas da intoxicação? Vômitos, mucosas amareladas, arroxeadas ou acastanhadas, dificuldade respiratórias, salivação em excesso, urina acastanhada, choque e morte.
Existe dose segura? Alguns estudos dizem que doses abaixo de 10 mg/kg por dia não causam sintomas, mas causam sim um princípio de oxidação de hemoglobina, por isso é melhor evitar.
5. BENZOATO DE BENZILA:
Nomes comerciais mais comuns: Acarsan (uso humano) e Matacura sabonete (uso em cães)
Para que serve? Usado para tratamento tópico de sarna, piolhos e pulgas em humanos e cães.
O que causa nos gatos? Alteração do sistema nervoso central.
Quais os sintomas da intoxicação? Vômitos, diarreia, incoordenação, tremores, ataxia, convulsão, coma e morte. Quando ingerido acidentalmente os sintomas são mais graves.
Existe dose segura? Não, produtos com essa formulação devem ser evitadas nos gatos.
6. PERMETRINA:
Nomes comerciais mais comuns: Advantage Max III, Garma IGR, Defendog e Pulvex.
Para que serve? Usado no tratamento tópico contra pulgas e carrapatos em cães.
O que causa nos gatos? Alterações no sistema nervoso central e periférico.
Quais os sintomas da intoxicação? Tremores musculares, ataxia, salivação intensa, dilatação de pupilas e convulsões. Também quando ingerido os sintomas são piores e mais rápidos.
Existe dose segura? Não, por conta disso os medicamentos com permetrina são indicados apenas para cães.
Obs: a Deltametrina causa sintomas de intoxicação semelhante, por isso deve ser evitada em gatos também. Coleira para cães Scalibor e sarnicida Escabin de uso humano contém deltametrina.
• O QUE NÃO DEVE SER FEITO:
Caso você tenha administrado algum desses medicamentos, seja por via oral, seja por via tópica, ou em caso de superdosagem nunca é tarde para tentar reverter o problema, mas é preciso saber que a melhor maneira de salvar a vida do seu gato é levá-lo imediatamente ao veterinário.
Induzir o vômito é um processo o qual somente um veterinário treinado deve fazer e sempre dentro de uma clínica ou hospital. Fazer isso em casa pode causar aspiração do vômito e consequentemente pneumonia. Além disso, existe um limite máximo de tempo que se deve induzir vômitos após ingestão de medicamento tóxico.
Administrar qualquer outra coisa por via oral após ingestão de um desses medicamentos, como o leite por exemplo, também é extremante contra-indicado, pois o leite não só não tem qualquer efeito antídoto como pode aumentar a absorção intestinal de alguns fármacos e piorar os sintomas de intoxicação.
Em caso de intoxicação pela pele (via tópica) é recomendado que o gato seja lavado com sabão e água fria, mas também isso deve ser feito na clínica ou hospital, pois o tempo perdido em dar um banho em casa pode ser suficiente para levar o gato a óbito. Além disso, o veterinário pode tratar o gato com antídotos ou paliativamente enquanto ele toma banho na clínica.
• TRATAMENTO IDEAL:
Infelizmente nem todo medicamento possui antídoto específico, mas em ambiente hospitalar ou em clínica veterinária o gato receberá todo suporte necessário para o tratamento da intoxicação. Além de indução de vômito e banhos o tratamento paliativo com fluidoterapia e medicamentos para reverter o quadro são muito importantes. Algumas vezes é possível fazer lavagem gástrica, mas também dentro de um limite máximo de tempo.
Essas informações não devem ser interpretadas como forma de diagnóstico. Nunca medique seu gato sem prescrição veterinária. Esta matéria não tem intenção de criticar qualquer empresa farmacológica ou seus produtos e sim direcionar o uso adequado dos medicamentos para cada espécie.
→ Todos os créditos desse post pertencem ao Portal Medicina Felina.
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